domingo, 9 de outubro de 2011

Não fazer

Dom Juan estava ensinando Castaneda a não fazer.

...

“Tudo o que lhe ensinei até agora foi um aspecto de não fazer
disse Dom Juan. — Um guerreiro aplica não fazer a tudo no mundo e, no
entanto, não lhe posso dizer mais a respeito do que já lhe falei hoje. Deve
deixar que seu próprio corpo descubra o poder e a sensação de não fazer”.


Tive outro acesso de cacarejar nervoso.

"É burrice sua escarnecer dos mistérios do mundo simplesmente
porque conhece fazer o escárnio" — disse ele, com uma cara séria.
Falei que não estava escarnecendo de nada ou ninguém, mas que era
mais nervoso e incompetente do que ele pensava.

— Sempre fui assim — disse eu. — E, no entanto, quero modificar-me e
não sei como. Sou muito inadequado.

— Já sei que você acha que não presta — disse ele. — Isso é seu fazer.
Agora, para afetar esse fazer, vou recomendar que você aprenda outro fazer.
De hoje em diante, e por um período de oito dias, quero que você minta para
si mesmo. Em vez de se dizer a verdade, que você é podre, feio e inadequado,
você se dirá que é o oposto, sabendo que está mentindo e que é
completamente sem esperança.

— Mas qual a finalidade de mentir assim, Dom Juan?

— Pode prendê-lo a outro fazer e então pode compreender que ambos os
fazeres são mentiras, irreais
, e que prendê-lo a qualquer deles é uma perda
de tempo
, pois a única coisa que é real é o ser em você, que vai morrer.
Chegar a esse ser é o não fazer do eu.



Trecho do livro Viagem a Ixtlan, de Carlos Castaneda.

0 comentários:

Postar um comentário